domingo, 24 de fevereiro de 2013

Horsepower...



Há duas coisa que não como: lampreia e coelho. Poderia falar de fígado, mas não seria honesto porque consumo pastas e enchidos que levam fígado. Só não como fígado simples, logo, não conta.
Se me oferecerem um pedaço de, vamos supor, empada de peixe, eu provo e, se gostar, como. Se me disserem a seguir que é de lampreia, limitar-me-ei a dizer que é bom e que afinal do que não gosto é de lampreia como já comi antes - com arroz. E o mais certo é comer empada de lampreia daí em diante. Arrisco até dizer que poderei voltar a tentar o arroz.
Se me fizerem o mesmo teste com coelho, provavelmente acharei delicioso, mas depois de saber a verdade, recusar-me-ei a comer mais. Ficarei até constrangido.
Porquê?
Porque de lampreia não gosto do sabor e coelho não como por preconceito. Não me consigo ver a comer o animal: é superior a mim.
Passa-se o mesmo com a questão da carne de cavalo incorporada em produtos de carne de vaca.
Se colocarem, sem informar, perú numa empada de galinha ou pedaços de frango misturados num arroz de pato, poderá considerar-se que existe adulteração do produto e os consumidores têm o direito de se sentir enganados, mas difcilmente isso criará problemas de maior. Em termos legais é adulteração, mas não há preconceito.
Tendo sempre como ponto de partida a certeza de que a carne de cavalo incorporada nos produtos em apreço reúne todos os requisitos previstos na lei como necessários para ser considerada apta para a alimentação humana, o problema resume-se à informação prestada.
A carne de cavalo é utilizada em muitos países na alimentação humana e Portugal não é diferente: existem até talhos especializadas na sua comercialização. É o que os americanos apelidam de GRAS, sigla de "generally reported as safe".
Legalmente, do rótulo de um produto alimentar composto deve constar, entre outras coisas, a lista dos ingredientes nele incorporados. Por esta ordem de ideias, e mantendo a premissa da salvaguarda da saúde pública e da respectiva rastreabilidade dos ingredientes, uma lasagna de de cavalo é um produto tão bom para o consumo humano como é uma lasagna de vaca ou como uma lasagna de porco. Desde que a informação conste dos ingredientes, está legal.
É aí que entra o preconceito.
Mesmo com todos os aspectos legais assegurados, manda o preconceito que a menção à existência de um produto incorporado que não seja consensual, tenha direito a chamada de atenção na embalagem.
Assim, mais do que destruir alimentos perfeitamente sãos ou, pior ainda, supor que são bons para os pobrezinhos, porque não colocar bem visível a informação de que têm incorporada carne de cavalo e deixar aos produtores e principalmente aos consumidores a possibilidade de decidirem o seu destino: as prateleiras dos supermercado, as latinhas de Pedigree Pal ou a incineradora.
Não há-de demorar muito tempo para que estes preconceitos sejam vencidos pela escassez de produção que, à falta de alternativa, nos colocará na boca um conjunto de coisas altamente nutritivas que hoje consideramos hediondas como sejam insectos, larvas ou roedores.
Quanto à questão do ministro alemão que queria dar as lasagnas aos pobres, coloco-a na prateleira dos lugares atrás dos postes no estádio de Alvalade que alguém pretendia oferecer aos invisuais: uma coisa a repensar.
O andar do mundo vai-nos fazer cair os preconceitos um a um...   

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