domingo, 6 de janeiro de 2013

De como um arrazoado de inutilidades pode ter, afinal, algum sentido


Não me custa nada ser pobre, exceptuando talvez a chatice que é a sensação de não ter dinheiro.
Tirando o acima exposto, ser pobre não é pior hoje do que sempre foi.
Mau mesmo é pensar à pobre, coisa que nem os pobres fazem.
Mau mesmo é pensar que o amanhã não tem como ser melhor que o hoje.
E eu hoje, tenho que concordar comigo, tendo a pensar à pobre.
Continuo a fazer o que sempre fiz. Vivo abaixo das minhas reais possibilidades e sinto-me, como aliás sempre me senti, perfeitamente confortável com isso.
O que me causa urticária é o incómodo de saber que alguém, algures, se convenceu que é importante eu ser pobre para que a área geográfica alargada onde me inseriram consiga garantir a um grupo de privilegiados que continuem a ser privilegiados - Sou pobre mas por razões financeiras e não doutrinárias, principalmente se forem razões doutrinárias ditadas por outrém.
Dificilmente conseguiria ser comunista, daqueles à antiga, enclausurado do lado de lá da cortina de ferro. Só a uma entidade permito que me mande poupar: à minha carteira.
Não tenho raiva, apenas inveja, de quem tem mais que eu. A inveja é para muitos um catalizador - uma mola impulsionadora. Para mim é uma merda: gostava de ter o que fulano tem, mas não me apetece ter o trabalho necessário à sua obtenção. Daí que aprecie, de coração aberto, quem tem sonhos e tudo faz para os concretizar. Quem luta com ardor e com a razão do seu lado, merece o meu mais profundo respeito e a minha mais prolongada admiração. É essa a minha inveja.
É que há pobres que me causam esta minha peculiar inveja...
Ser pobre sim, mas por força das circunstâncias. Jamais por força da doutrina.
A doutrina que nos põe a pensar à pobre, coisa que nem os pobres fazem.

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