quinta-feira, 29 de setembro de 2011

da concorrência desleal e actualmente desnecessária


A questão da construção de uma Pousada de Juventude no Luso é uma bandeira antiga que é levantada pelos seus defensores sempre que para isso lhes é dada oportunidade.
Foi-o de novo na passada sexta-feira, em sede de Assembleia Municipal descentralizada.
O Luso é o único destino turístico do nosso concelho. Já viu melhores dias, mas reconhece-se aos lusenses uma resiliência ímpar, suficientemente forte para lhes permitir terem-se aguentado nestes últimos anos com base em promessas de leite e mel.
Como não são as promessas que sustentam os negócios, é natural que do ponto vista económico as coisas tenham vindo a decair. No caso do alojamento turístico, a situação começa a ser dramática.
Aparentando desconhecer a realidade, os defensores da construção da Pousada de Juventude prosseguem a sua cruzada em prol de um tipo de alojamento que irá fazer concorrência directa ao parque de campismo, desleal ao alojamento turístico existente e sustentado num tipo de turista que objectivamente não é o que procura este tipo de destino.
A solução para o Luso passa pela revitalização e possível reorientação (séria) das termas, pela resolução do problema da poluição provocada pela fábrica Alcides Branco, pelo epílogo da novela Palace Hotel e pela requalificação da vila, já em andamento.
Quando a procura arrancar e o alojamento turístico recomeçar a trabalhar, recuperem a ideia da Pousada, do hotel de cinco estrelas, das não sei quantas centenas de novas camas.
Mas tudo com os pezinhos assentes no chão ou como se diz actualmente, de forma sustentada.

Pergunta de algibeira


No dia em que é conhecido o conjunto de alterações às taxas moderadoras, que terá reunido até um certo consenso ao colocar a tónica no rendimento das famílias, urge fazer mais uma vez a pergunta:

"Porque é que todos os séniores têm direito a usufruir de forma igual das vantagens do cartão dourado, quer recebam uma pensão de sobrevivência, quer recebam uma reforma milionária?" 

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

do aviso à navegação


Acabei de adquirir um Rolls Royce para a cozinha.
Não.
Não é uma Bimby, é um micro-ondas novo, porque o anterior (já um Rolls Royce à época) encostou ao fim de quase quinze anos de serviço ininterrupto.
Mas o aviso à navegação é outro: custou menos 12,5% na D Helena, na Mealhada (encomendou à Whirlpool porque nem sabia que existiam micro-ondas que cozem a vapor) do que custava no Media Markt de Aveiro.
Muita atenção.
Porque nestas alturas de crise não podemos ser parvos.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

do movimento das massas

Comemora-se hoje mais um Dia Mundial do Turismo. Um dia em que alguém ofereceu flores a quem chegou aos aeroportos ou se calhar, devido à crise, nem isso.
No entanto, o turismo é uma das actividades económicas mais importantes do mundo contemporâneo.
É uma área de negócio que gera receitas directas e indirectas colossais, que requer assistência e por isso cria postos de trabalho. Prevê-se que seja a maior actividade económica do mundo dentro de pouquíssimos anos.
O turismo movimenta hoje pessoas muito mais informadas e críticas que antigamente. A sociedade actual, à excepção de alguns nichos que tendem a perder expressão com o tempo, cria turistas que viajam à procura da genuínidade, do encontro de culturas, das paisagens protegidas, das actividades preservadas.
Antigamente as famílias tinham em casa uma toalha de mesa melhor e uma baixela mais requintada, apenas para as visitas, utilizando no dia a dia a toalha remendada e a louça com falhas. Hoje já não é assim: a toalha do dia a dia tem dignidade suficiente para ser apresentada a qualquer visita.
O turista de hoje apercebe-se imediatamente quando a toalha que lhe apresentam não é igual à que é utilizada no dia a dia das regiões que visita. O turista de hoje, independentemente da sua origem, independentemente do facto de ser rico ou pobre, conhece o nível de vida dos locais que visita e sabe avaliar, muito melhor do que antes, se está a ser enganado.
A democratização da informação à escala global, fez voltar ao nível das necessidades básicas, as necessidades do turista: sítio para dormir, sítio para comer e informação local. Todos os outros serviços (saúde, cultura, segurança, transportes, etc) devem ser prestados ao nível do que é prestado aos nativos, o que obriga a um cuidado maior. Resulta disso mais uma das grandes vantagens de acolher turistas: a obrigatoriedade de dotar os destinos de melhor qualidade de vida, estendida, obviamente aos habitantes locais.
Isto apesar de, como um dia me confidenciaram para explicar o porquê de certos comportamentos dos nossos governantes, isto apesar dos turistas não votarem. 

da inevitabilidade, da finitude, da morte, do fim


"Morto feito, chorar já não tem proveito"

Comentário de um pescador açoriano acerca da morte trágica, em terra firme, de um camarada.
Comentário feito, não pelo homem, mas pela vida.
Um comentário muitíssimo profundo.  

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

do espírito da época


Enquanto não há panetones no Lidl, encarno o espírito da época da melhor maneira possível: uma constipação que já vai em três dias.
A maior causa de absentismo do mundo, diz a OMS.
Menos em Portugal.
Em Portugal temos os atestados médicos: os normais e os especiais passados por médicos que também estão de baixa.
Como não conheço nenhum médico vigarista, tenho que trabalhar. Isto apesar de sofrer da doença mais incapacitante para o trabalho de todo o mundo.
Acho que me estou a repetir.
Estou mesmo doente.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

do ruído ou como se pode ser ultrapassado pelo carisma dos Homens da Luta que são apenas dois humoristas

Iniciando a preparação de um orçamento geral do Estado que se prevê quase pornográfico, em sede de concertação social, o governo reuniu-se hoje com os parceiros sociais.
Perante a possibilidade de algumas mexidas bastante penalizadoras para os trabalhadores no que respeita à legislação laboral, a CGTP fez uma contra-proposta que se pode resumir no seguinte: "não mexam na legislação laboral, as empresas que poupem na água e na luz".
Todos sabemos que é mais fácil andar de megafone na mão que tentar resolver os problemas das pessoas, mas era conveniente darem a ideia de que sabem fazer um bocadinho mais que andar de megafone na mão.
Assim, salta para cima da mesa novamente a questão do sindicalismo serôdio, datado e perfeitamente ultrapassado.
E é pena; toda a gente perde...

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

das cadelas, à falta de nome mais apropriado



Um casal de canídeos dava-se ao desfrute em plena via pública.
Passa uma senhora com uma criança pela mão:
-O que é aquilo, mamã?
-Sabes, o cãozinho de trás magoou-se nas patinhas e o da frente está a ajudá-lo a chegar a casa.
-É sempre a mesma coisa, mamã! Quem ajuda os outros acaba por ser f****o!

É mesmo assim: uma agência de viagens comete um erro e por causa disso duas senhoras arriscam-se a ter que dormir na rua. Estão a milhares de quilómetros de casa.
Como têm duas colegas com quarto atribuído, tenta-se uma solução de recurso, alojando as quatro numa suite.
Concordam todas.
Depois de tudo instalado, uma das senhoras (das que tinham quarto), resolve que afinal não quer partilhar o quarto com as duas desvalidas, que curiosamente são suas superiores hierarquicas lá no país de origem.
Este vosso criado acaba por tirar uma carta da manga e resolver tudo a contendo, mas não sem anttes ter feito sentir à senhora o quanto estava a ser egoista e mal educada. E se calhar mais qualquer coisa.
Hoje chegou a resposta em forma de um mail da agência, da mesma que tinha cometido o erro, exigindo o reparo do destrate.
Não ficou sem resposta, adequadamente dura, curta e grossa.
As três colegas apressaram-se a pedir desculpa e prontificaram-se a fazê-lo por escrito.
Afinal, quem ajuda os outros nem sempre acaba f****o.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

da cidadania


O Municipio da Mealhada aderiu desde a primeira hora, primeiro aos dias europeus sem carros e agora à semana da mobilidade, entretanto a decorrer.
Hoje desloquei-me ao centro da cidade e realmente apreciei a zona delimitada, cortada ao trânsito, adornada com vegetação e esplanadas. Confesso que não tenho opinião fundamentada sobre o evento, mas há coisas que têm que ser salvaguardadas. No caso, as acessibilidades, uma vez que na área delimitada se situa uma clínica e uma farmácia, isto para não falar de qualquer emergência que possa surgir.
O promotor do evento teve o cuidado de colocar barreiras móveis nas entradas para permitir um fácil acesso em caso de necessidade. Infelizmente não contou com a proverbial falta de educação dos condutores nativos. No caso, dos policias. Quando passei junto a um dos acessos, a entrada estava bloqueada por um veículo da GNR, sem ocupante visível nas proximidades.
Nem de propósito, algum tempo depois, a viatura do INEM teve necessidade de entrar no espaço delimitado e viu-se obrigada a esperar que o dono de um veículo mal estacionado (onde antes estivera o da GNR), o removesse.
Não é muito esforço exigir-se às pessoas um pouco de bom-senso, mas com a própria autoridade policial a dar o mau exemplo, às vezes torna-se difícil.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

do Verão, o ansiado final


Estamos quase lá.
Oxalá cumpra.
O Outono é a única estação que tem obrigação de se comportar como lhe ensinaram.
Vamos então esperar pelas manhãs fresquinhas, pelas tardes de sol (mas sem grandes caloraças), dos pores do sol com pose de postal (sempre que falo do Outono tenho que escrever esta expressão) e das noites a começar aos poucos a pedir lareira.
Um dia destes vão aparecer os Panettones no Lidl, sinal que a caminhada é irreversível.
Desejo-nos, a todos sem excepção, um fantástico Outono.
Com nozes, castanhas e romãs e agua-pé para quem for apreciador.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

das escolhas

(O artista está a precisar de aparar a franja)

Fazemos escolhas durante toda a vida. A vida é um percurso, e caminho que deixamos é caminho que morre. Mesmo os caminhos retomados, embora possam parecer, já não são iguais aos que deixámos para trás.
Com a idade, as escolhas começam a revestir-se de maior dramatismo. Algumas são radicais.
Considero idiota o medo de envelhecer, mas respeito quem o cultiva. Acho até valoroso o esforço de esconder a marca do tempo. Diria mais: épico. É a nossa possibilidade de brincarmos aos deuses.
No entanto, há coisas que são infrutíferas. Há modificações alheias à evolução da medicina; pequenas manias do nosso organismo que não se compadecem com bisturis, clínicas modernas ou cirurgias sofisticadas.
Mesmo com a carroçaria recauchatada, o tempo moi.
Entre café e charutos, tive que optar. Dramático! Juntos provocam-me palpitações e desconforto no estômago.
Porque a idade também nos traz sensatez, cheguei a um consenso. Ora um ora outro, com periodos de higiénico ramadão.
Desde Julho que não tocava em charutos. Retomei hoje como se de um velho amigo se tratasse: alguem que nos faz companhia, que nos compreende e que não nos julga. Tenho cada vez menos, cultivo os melhores.
Abandonei o café, vai para duas semanas, e realmente começo a convencer-me que de facto a idade me tem trazido sabedoria. Mas isso é a minha opinião: a que me importa.

sábado, 17 de setembro de 2011

do Euromilhões



As últimas horas têm-nos feito detestar ainda mais o senhor da foto. Coisa que não sabíamos ser possível.
Todos desejaríamos que alguém lhe desse um pontapé no rabo. Mas todos sabemos, também, que tal não vai acontecer, mercê do enquadramento legal da coisa. Para todos os efeitos, Alberto João Jardim não tirou proveito próprio (visível) do artifício contabilístico de esconder despesas. Se o tivesse feito, poderia perder o mandato.
Vai ser sancionado pela falha contabilística e seguir a sua vidinha.
Espera-se o castigo das urnas.
Será em vão a espera.
Senão vejamos:
1.Aparentemente, as verbas escondidas foram utilizadas em melhoramentos da ilha conforme ele não se cansará de apregoar.
2.Os madeirenses já vão sofrer com a austeridade imposta pelo governo central. Com buraco nas contas locais ou sem ele.
3.O buraco nas contas madeirenses não vai castigar mais os madeirenses que os outros portugueses. O buraco madeirense vai ser incluído no bolo total do buraco total do país e dividido por todos.
4.Na pratica, cada madeirense vai pagar menos do que pagaria se as contas estivessem todas contabilizadas.
5.Parece um óptimo cenário eleitoral para Alberto João Jardim.

Claro que existe a secreta esperança de que Alberto João Jardim tenha tirado proveito próprio das verbas e que tal se venha a provar, mas é também claro que existe a secreta esperança que a cada um de nós calhe o euromilhões: mesmo quem não joga.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

da retaguarda


Os automóveis têm, pelo menos, três espelhos retrovisores - isto parece-me pacífico. E nem estou a falar de câmaras nem de pipipis nem de carros que se estacionam sozinhos.
Com recurso a esses três espelhos, é possível fazer com facilidade e em segurança a esmagadora maioria das manobras que impliquem a comumente chamada marcha-à-ré - continua pacífico.
Partindo do atrás exposto, porque razão é que todas as escolas de condução do mundo formatam os condutores do modo que a seguir se explica?
"Engatas a marcha atrás e, acto contínuo, jogas o braço para cima do banco do passageiro, inclinas-te todo para trás, fazes um esgar semelhante ao que faz quem tem os testículos metidos num torno (as mulheres e os incompletos têm que fingir), aceleras com cuidado e fazes a manobra".
Chega a ser doloroso de ver. E são portugueses, espanhois, italianos, franceses, brasileiros, americanos, israelitas. Tudo a fazer a mesma figurinha.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

do futuro



Segui hoje na íntegra a entrevista a Nuno Crato no liceu Pedro Nunes.
Gostei do pormenor de ser numa escola. Uma escola pública e emblemática daquilo que é o ensino público.
Gostei do tom, gostei dos objectivos traçados e gostei de saber pelo Carlos Daniel que o encerramento de escolas é já uma matéria pacífica. Se calhar faltou ao anterior executivo explicar que o encerramento tem bases economicistas mas também pedagógicas: ou o contrário.
Gostei de saber que o caminho é o da maior autonomia das escolas, assim estas estejam à altura do desafio.
Gostei de saber que vai passar para as familias a prerrogativa de escolher a escola dos seus educandos, belíssima medida.
Gostei do reconhecimento do trabalho dos antecessores, em algumas alturas até elogio. Há coisas em que um ministro não político não se deve meter e o sectarismo é uma delas.
Não gostei da indefinição em relação às Novas Oportunidades, matéria onde o objectivo deveria ser "melhorar o que está mal, manter o que está bem e continuar com mais rigor".
Não gostei da fuga ao assunto e-Escolas e e-Escolinhas (Magalhães). A população tem o direito de ser informada acerca desses projectos para que finalmente se perceba se tinham objectivos pedagógicos ou se serviram apenas para ajudar uma empresa em dificuldades e para dar dinheiro a ganhar às três maiores operadoras de comunicações a operar  em Portugal.
Não gostei de saber que ainda há muitos problemas em relação ao transporte de alunos por esse país fora.
Não gostei de ver ausente o tema Ensino Profissional.
E principalmente não gostei de ver a vénia que o ministro fez ao ensino privado. Considero que a charneira deverá ser sempre o ensino público.
Vamos então esperar e ver.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

da não conformidade da crise

Onde é que anda a ASAE?
Esta crise está cheia de não conformidades.
Os caminhos de evacuação estão mal assinalados, os extintores não funcionam, a iluminação de apoio não é suficiente e as saídas de emergência não existem.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

da oitava maravilha


Desengane-se quem achar que o melhor acompanhamento para a cerveja é o marisco.
Reformulo.
Toda a gente sabe que nada acompanha melhor com marisco que um belo Vinho Verde. Quanto mais não seja porque, se o marisco acompanha bem com a nossa cerveja mais comum, a Pilsener, já não casa da mesma maneira com a esmagadora maioria das outras cervejas à venda no mercado.
O melhor acompanhamento que uma cerveja pode ter, seja que cerveja for, é um belo naco de bife dentro de um pão. Ou dois.
O prego no pão, uma instituição gastronómica de proporções desumanas, é, porque não tem igual, a oitava maravilha da gastronomia nacional.
Comecemos pela carne que deve ser de vaca (obviamente), um bom corte de pojadouro, alcatra, vazia ou lombinho. Tenro, exige-se. Fino, não mais que um centímetro de espessura, e apenas ligeiramente maior que o pão.
Repousado, larga-se isento de temperos sobre uma frigideira bem quente onde deve borbulhar uma mistura de manteiga e azeite em proporções semelhantes, mas apenas suficiente para napar o chão do recipiente.
Sela-se a carne, passando apenas uma vez de cada um dos lados e reserva-se para um prato ainda a pingar os belos sucos.
Sem perder tempo, larga-se um trago generoso de vinho branco sobre o caramelo que repousa no fundo da frigideira para que descole e emulsione e junta-se à mistura meio cubo de caldo para bifes Knorr (sim, sem receios) e um borrifo contido de Worcestershire sauce (molho inglês).
Baixa-se o lume e mexe-se com uma colher até o caldo estar liquefeito e todo o molho ganhar uma consistência untuosa.
Coloca-se de novo a carne na frigideira de banha-se generosamente, ora de um lado ora do outro. A frigideira deve permanecer sempre destapada e este último processo deve ser rápido para a carne permanecer tenra. Lume sempre no mínimo.
Abre-se o pão, deita-se o bife e rega-se languidamente com o molho. Os apreciadores podem barrar parcimoniosamente com um pouco de condimento de mostarda, da boa, Savora, em frasco de vidro.
O pão, esse deve ser o mais neutro possível, porque só entra nesta equação para evitar que se sujem os dedos.
O pão da avó que se encontra em qualquer boutique cumpre muitíssimo bem a função. Bastando para isso que se funda com a carne no momento do sublime prazer da mordiscadela.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

da dúvida tributária


Devo colocar estes produtos no IRS como despesa de saúde (fazem-me bem à vista) ou como despesa de manutenção e conservação do patrimonio?

domingo, 11 de setembro de 2011

da Maravilha

(O homenageado é o que não tem touca na cabeça. O cavalete é o Quim Luis)


Sem surpresa.
Obviamente...

da ignomínia

"A economia mundial está à beira do colapso"
dos jornais, citando fontes do FMI


Ao fim de dez anos de incertezas e tremeliques, ameaça cumprir-se o principal objectivo do ataque.

sábado, 10 de setembro de 2011

do amargo, o mais complexo dos sabores


Há quem diga que a idade traz as favas e a lampreia. A mim trouxe-me, até ver, as favas. Um dia destes desvendo por aqui uma receita original de favas. Lampreia, não me parece. Não tenho idade suficiente para apreciar e provavelmente nunca vou ter.
Outra coisa que a idade traz é o prazer do amargo.
O amargo sente-se na parte de trás da língua, a partir do centro e a caminho do garganta, mas em contrapartida é o sabor que tem direito a mais área na lingua. É o mais complexo. Descaiu-se para as traseiras porque a evolução assim o quis. À frente de tudo está o doce, depois o salgado, o ácido espraia-se pelas laterais e no final de tudo o amargo. Tudo planeado pela natureza para proteger as crianças de comer o que não devem, é a explicação mais ou menos científica.
Curiosamente, o picante não é reconhecido: limita-se a provocar dor. E a "cegar" os outros sabores.
Com a idade chegou-me inexoravelmente o amargo. Os dois: o que cultivei como imagem de marca de cada vez que abro a boca e o que aprendi a apreciar enquanto sabor de vários tons.
O amargo espraia-se mais nas bebidas, havendo até classes próprias que o cultivam. Desde o suave da água tónica ao praticamente imbebível do Underberg ou do Fernet Branca.
No meu caso, fico-me pelas meias-tintas, um amargo dos mais complexos que conheço: o Campari.
Bebo-o com sumo de laranja e aprecio-o a jogar às escondidas com o doce à medida que evolui na língua: primeiro doce e depois amargo.
Mas a verdadeira dimensão do amargo do Campari, fala quando se lhe junta água tónica e uns pinguinhos de sumo de limão. São duas bebidas com alma a discutir entre si, a competir pela supremacia.
Bebe-se como aperitivo, porque o amargo, excepto raríssimas excepções, não vai bem com nada.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

do(s) Amor(es)


"Ela nunca pede entradas nem sobremesa.
Ele fica fulo porque ela acaba sempre por comer a dele.
E ele pede para si a sobremesa que ela gosta."

Isto e Fanny Ardant, a segunda mulher mais bonita que a França criou, eram argumentos suficientes, mas é muito mais que isto. É amor nas mais puras das suas formas. E são muitas, todas iluminadas pelo céu de Paris.
Tanto procurei que acabei por encontrar "Paris je t'aime" e posso garantir que muito para além do que acima escrevi, é um GRANDE filme. Maior, muito maior que o "New York I love you" que lhe sucedeu e que me fez querer conhecê-lo.

Pergunta de algibeira



Porque razão está tudo tão eriçado com a história da pílula e não se vê ninguém a defender a laqueação de trompas?
A laqueação é um processo reversível e não tem, nem de longe, os efeitos secundários da pílula.
Além disso é um apoio ao planeamento familiar utilizado em muitos países com provas dadas.
A palavra "farmaceuticas" assola-me, mas não sei bem onde a encaixar neste contexto.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

do nascimento, da raíz

A conversa desenrolou-se em francês, a única lingua comum .
"Nunca vi tal coisa"
"Mas vai ver outra vez já a seguir"
E vi.
"Porquê?"
Encolheu os ombros.
Esta israelita de, pelo menos sessenta e quatro anos, tem no passaporte a seguinte data de nascimento: 00/00/1947.
E o companheiro, igual.
O estado de Israel, embora planeado antecipadamente, só nasceu de facto em 1948.
Estava portanto perante dois colonos originais; dois fundadores de uma pátria.
Senti-me a interagir com a história contemporânea.
Sem juízos de valor, apenas reverência.

da nobre arte de trinchar

Falta menos de um mês para começar a sexta temporada de Dexter.
O Outono, que o aquecimento global tornou inconstante, mantem, apesar disso, algumas rotinas saborosas: esta é uma delas.
Depois de uma quinta temporada fraquita, que sucedeu a uma quarta temporada de altíssimo nível (para mim a melhor), esta sexta temporada deverá marcar um ponto de viragem, seja ela para cima ou para baixo.
A génese da trama foi posta em causa na quinta temporada: caiu-nos aos pés um Dexter mole, apagado, muito policia, muito bom rapaz, muito previsível. Uma personagem de opereta; transparente, rosadinha...
Especula-se já sobre o fim da série que, asseguram alguns, deverá acontecer no final de sétima ronda.
Pelo que me diz respeito, vou apascentar os demónios e fazer figas para que o Dark Passenger regresse à cabecinha do moço Morgan com eloquência e teimosia.
Tonight is the night...

terça-feira, 6 de setembro de 2011

do logro ou como dizia o jornal "sou tão rico, não era".


Se calhar porque alguém pretendia taxar as grandes fortunas ou se calhar porque sim, nos ultimos tempos têm vindo a lume notícias avulsas que, juntas, nos traçam um novo cenário: em Portugal até os ricos estão pobres.
O BPN tem às costas um buraco identificado de, diz-que, mil e seiscentos milhões de euros, de uma dívida de uma empresa com ligações a Américo Amorim.
A CGD, esta é fresquinha, tem no seu balanço uma dívida de Joe Berardo que, segundo a imprensa, ultrapassa os mil milhões de euros. Neste caso um crédito para comprar acções do BCP que valem hoje apenas uma parte do preço pelo qual foram compradas.
E ainda há pessoas que têm o arrojo de não dormir de noite apenas porque devem uma centena de milhar de euros do apartamento e não têm como pagar a prestação.
Olhem à volta, ó mesquinhos!
Comparado com estes exemplos, o vosso caso é uma pintelhice.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

1000

(A foto tem sete anos, mas continuo igualzinho, mais bonito até.)

Se as minhas contas estiverem certas, este é o post número mil do Chacomporradas.
Oba! Oba!
Era só o que eu tinha para dizer.

da terceira idade


Se este rapaz tivesse tido juízo, estaria a partir de hoje habilitado a meter os papéis para a reforma.
Se este rapaz tivesse tido juízo, hoje não estaria aqui a falar dele.
Se este rapaz tivesse tido juízo, teria a família e os amigos chegados a desejar-lhe um feliz aniversário e provavelmente receberia uma garrafa de whisky e umas pantufas que o Inverno lá no norte é agreste.
Assim tem o mundo todo a lembrar-se dele.

domingo, 4 de setembro de 2011

da definição de negócio



O iOnline chama hoje à pedra a Parque Expo num artigo que se pode ler aqui.
Sem juízos de valor, apenas uma reflexão.
Os negócios à portuguesa lembram-me sempre o comentário que ouvi de um guia turístico a bordo de um barco no rio Tamisa. Ao passarmos junto à estátua de Boudica (Boadicia), numa das margens, próximo do Big Ben, atirou isto:
"Eis a estátua de Boadicia, rainha celta, aqui a conduzir um carro. Um cavalo está virado para a esquerda, o outro cavalo está virado para a direita, a condutora leva as mãos livres, mas tudo indica que vão a grande velocidade..."
Rematou com um comentário sexista que não tem importância para o caso em apreço.

da arqueologia industrial



"Não há silêncio mais profundo que o de uma fábrica abandonada", disse Richard Hammond, um dos três apresentadores do programa da BBC, Top Gear, enquanto vagueava pela fábrica abandonada da TVR em Blackpool algures em 2005.
Depois disso, a TVR foi comprada por um russo, partida aos bocados, revendida ao mesmo dono, reestruturada e dispersa por vários países. Consta que está a ser preparado um regresso, mas o site permanece quieto. Ao longo deste processo continuou a fazer carros, mas...
A TVR foi fundada em 1947, o ano em que nasceu a Land Rover, acrescentou Jeremy Clarkson.
Toda uma era afogada pelo peso que a economia foi roubando ao prazer.

sábado, 3 de setembro de 2011

da assumida iliteracia




O Chacomporradas não vai adoptar o acordo ortográfico.
Não consegue.
Nem quer...

da época



Chegou a época dos cachos. Não confundir com a época das uvas que é coisa que não existe: uvas existem todo o ano. Cachos há em Setembro.
Ir aos cachos era a derradeira actividade de férias grandes antes do regresso às aulas. De bicicleta, sem tesoura nem navalha, nos sítios do costume ou em temerária aventura por vinhas desconhecidas confiando apenas no palato e numa técnica empírica de apreciação a olhómetro.
Por vezes a coisa corria mal: havia donos aos berros, cães, consta que cartuchos de caçadeira carregados de sal, mas estes últimos parece-me que do território do mito.
Nesses tempos heróicos, os cachos chamavam-se bons ou maus: os brancos habitualmente mais doces que os tintos, mas apenas habitualmente.
Quando a vindima tinha sido mais displicente, era possível apanhar alguns já dourados, ligeiramente passados, mais doces que mel.
Hoje comi cachos, mas foram comprados. Acho eu!
 

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

do improvável braço de mar ou vale tudo inclusivé tirar olhos

(Iate de cruzeiro a navegar pelos fiordes da Beira Interior)

"O Prato “A Perdiz de Escabeche”, um dos 21 finalistas das 7 Maravilhas da Gastronomia, representando a região da Beira Interior e apadrinhada pelo Município de Idanha-a-Nova, vai ser apresentado no Navio Escola Sagres, da Marinha Portuguesa, no próximo dia 2 de Setembro, naquela que é considerada a grande embaixada de Portugal no Mundo." ler aqui o resto...

É que tem tudo a ver, acrescento eu.
Aliás, quando me falam de Beira Interior, lembro-me logo do mar.

da paixão irracional



Quando falo da Rover, sei do que falo.
Infelizmente sei.
Sei eu e sabem todos aqueles quantos deixaram de os comprar com tal veemência que ditaram o fim da marca.
Mas o coração não me deixa mentir: a Rover construia carros lindíssimos.
O 75 coupé não chegou a sair em Portugal mas ainda hoje seria este o carro que eu gostaria que me acompanhasse na velhice.
Tinha era que ser fiável, uma das qualidades que, tal como os irmãos, não possuía.

do encanto das manhãs deste Setembro

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

da comunicação


Tenho um conhecido, belga, que divide a vida entre a Bélgica e Portugal.
Conheço-o há vários anos e o português que fala é tão fluente hoje com antes. Pouco.
A isso não será, tenho a certeza, omisso, o facto de a sua vida em Portugal se resumir a três vectores: beber (muito), dormir (muito) e nos intervalos permitidos pelo tempo e pela disposição, andar de bicicleta. 
É uma pessoa expansiva e tem muitos amigos com quem convive habitualmente em prolongadíssimas noites de farra. Bêbados, o que não ajuda o homem a melhorar o sotaque.
Há tempos, em conversa, contou-me uma das suas ultimas aventuras: foi de Portugal até casa, de comboio. Queria matar saudades do tempo em que trabalhou na venda de viagens de longo curso e recordar os primeiros anos em que viajou para Portugal, quando o comboio era muito mais barato que o avião.
Durante a viagem, conheceu um sujeito com quem partilhou a mesa e a conversa. O tal sujeito falava um pouco de português e um pouco de inglês e a coisa foi andando ao som de uns Ricards e umas cervejas. Acabaram por se entender.
No final da viagem, já em Bruxelas, resolveu perguntar ao outro qual a sua nacionalidade: era belga, tal como ele, praticamente vizinho, e tinham acabado de passar três dias seguidos a conversar em inglês e português macarrónico. Ele pensou que o outro era inglês, embora o sotaque lhe parecesse estranho, e o outro pensou que ele fosse português.
Notável!

da escrita


(O escriba não entra em "Estado de escrita". O escriba sente-se árido)

O escriba anseia pelo Outono. Pelo Outono dos livros. Pelo que, tal como a Primavera, voltava todos os anos ao mesmo sítio, no mesmo dia e mais ou menos à mesma hora.
Não por este que vai chegar, mas que este ano apenas nos abandonou esporádicamente. Este Outono que se entreteve a espicaçar o Verão.
Anseia pelo Outono criativo, pintado de castanho ocre e com cheiro a vinho mosto.
Fermentos e outras leveduras que entronizem no escriba aquilo que Manuel Alegre um dia apelidou de "Estado de Escrita".

da vida, coisa séria!



E quando um sonho
Tem matizes cor do mundo.
E o mundo
Imenso sonho,
Do céu salta, ao mar profundo.
Volta a nascer,
Desabrocha num segundo,
E no seguinte
Tropeça e cai, moribundo.

Quando o sonho é uma janela
E uma janela é o mundo.
E nos vidros da janela brilha toda a luz do mundo.

Se uma janela é o mundo
E o mundo uma janela,
Olhamos as coisas do mundo,
Respiramos só por ela.
Não vivemos um segundo...