sábado, 14 de agosto de 2010

do Fogo


O Estado Português assemelha-se a uma criança mimada. Despreza o que tem, mas está sempre a exigir mais.
Escrever aqui que considero o Estado Português um péssimo gestor seria uma brutal redundância, mas mesmo assim arrisco.
De facto, o Estado Português é um péssimo gestor.
É um péssimo gestor quando está mais disponível para receber que para pagar.
É um péssimo gestor quando não tem noção exacta do número de funcionários a quem paga.
É um péssimo gestor quando despreza o próprio património e apenas se desfaz dos excedentes quando já não têm qualquer valor patrimonial (e mesmo assim sonha com encaixes fabulosos).
É um péssimo gestor quando quer controlar tudo e acaba por não controlar nada.
É um péssimo gestor quando em vez de regular os mercados se imiscui no seu desenrolar natural e altera as regras a seu bel prazer.
É um péssimo gestor quando quer mandar no bem alheio, apesar de não cuidar do bem próprio.
Todos os dias assistimos a manifestações desta arrogância.
Agora são os incêndios.
O país arde e as medidas de prevenção ficaram na gaveta. Há quem ache que interessa mais combater que prevenir. Sabe-se lá porquê. Eu até adivinho, mas não me apetece falar nisso.
A mais crua das verdades é que sempre que a natureza nos brinda com um ano mais calmo neste particular dos fogos florestais, logo aparece um qualquer achadiço (normalmente com responsabilidades) a explicar que tudo se deve às políticas de prevenção e ao esforço do Estado (não vou particularizar governos porque é tudo igual) que pôs em prática políticas infalíveis e cujo resultado se demonstra.
Quando a coisa corre mal, a culpa é do povo que não limpa a mata.
E porque o povo não limpa, há que castigar o povo com mão pesada. Obrigar a limpar e fiscalizar o resultado poderia ser um caminho, mas está visto que dá trabalho e afinal os portugueses não são suissos, nem finlandeses nem noruegueses nem outro povo dos que que fazem as coisas logo à primeira.
Não.
O castigo mais assertivo será obviamente tomar posse das matas desprezadas e enriquecê-las com o know-how que o Estado utiliza nas suas próprias matas. Continuam porcas, mas são um bem público, logo deverão ser alvo de outro tipo de respeito.
O fogo, que se sabe ser estúpido nestas coisas da propriedade, cedo descobrirá que lavra à mesma velocidade, quer se trate de bem privado quer se trate de coisa pública.

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