domingo, 25 de julho de 2010

da cabeleira ao vento


Entre 10 de Junho e 5 de Outubro de 1997, desloquei-me diariamente com algum espavento num veículo rigorosamente igual (mas em velho) ao da figura e igual, excepto na cor, a um que acabei de ver na TV Turbo.
Datado de 1967, do mesmo ano que a minha própria pessoa, era um veículo fascinante, todo original.
E quando digo todo original, quero dizer que não aparentava ter tido grande manutenção ao longo da sua já longa vida.
A mala só abria quando lhe apetecia, os vidros ora subiam ora não, os travões tinham dias (lembro-me de ter ficado sem travões na descida de Anadia, facto que terá criado alguns cabelos brancos ao meu amigo Mitó, pouco habituado a estas idiossincrasias do veículo), a capota, das raras vezes que foi levantada ameaçava levantar voo e a carroçaria ostentava zonas de ventilação que aparentemente não existiam na origem.
Comprei-o no dia dez de Junho por mil contos (cinco mil euros) e vendi-o no dia cinco de Outubro seguinte por setecentos contos (três mil e quinhentos euros) a um desprovido de juízo, quase tão profundo quanto eu.
Nunca encarei o carro como veículo de colecção e perante o iminente chumbo na inspecção obrigatória de Dezembro seguinte, optei por deixá-lo ir.
Como divertimento bastou-me.
Claro que a notícia de que a família iria começar a crescer me acelerou a decisão de me desfazer do bicho, sob pena de o ver passar a ser o meu único meio de transporte durante o Inverno. Ideia tenebrosa, uma vez que se via a lua através da capota e a Elsa me garantia que filho dela jamais poria o rabo em tal geringonça. Tive pois que vender o emplastro, oferecer um carro novo à família e recuperar o meu fantástico Rover, veículo que me deu tantas alegrias como dissabores. Comprova-se pois a velha máxima que diz que nada há de mais perigoso que um desorientado com dinheiro nas mãos.
Mas por muitos anos que viva, jamais repetirei o prazer de assar o rabo nos bancos de napa preta em pleno Agosto por volta do meio dia ou de ter transeuntes a aplaudirem-me ao passar a ponte de Santa Clara.

1 comentário:

  1. Se bem me lembro, fui experimentar esse bólide num dia como tantos outros, em que após a janta e após tomar café no Portão (antigo), fomos para o nosso lugar cativo nas escadas, e apareces-te cheio de vontade de dar uma volta! Fomos a Vila Nova de Monsarros e voltamos. Na altura não aplaudi como os restantes da ponte, mas deveria ter feito. Um carro mistico!
    Abraço

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