quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Abertura oficial

(não é o original, mas cumpre)
Comprei hoje o ananás.
Dos Açores, como compete a uma tão elevada função.
Para mim, por reflexo condicionado da infância, Natal cheira a ananás.
Ananás do tempo em que ananás era uma coisa cara, uma coisa rara, enviado por correio por um amigo da família desde Lisboa. Compartilhava o caixote com chocolates e prendas antecipadas para toda a família. Com ele viajou o Conde de Montecristo, a Ilha Misteriosa ou o Robinson Crusoe. Com ele viajou o meu primeiro microscópio ou os fantásticos Grand Prix da Regina, uma tabletes imensas de chocolate de leite, de amendoas, de ananás...
E o ananás, o verdadeiro, farfalhudo. Raro.
Era cerimoniosamente aberto no dia de Natal ao almoço e comido com açucar e vinho do Porto para assentar o cabritinho assado no forno de lenha.
E a sala rescendia.
O senhor Narciso, o amigo que os enviava, já morreu há muito, mas eu obrigo-me todos os natais sem excepção a comprar um bom ananás para lhe sentir o cheiro na sala.
Foi hoje e já cheira.

1 comentário:

  1. Não acredito que chegue ao Natal. Ou apodrece, ou, (o que é bem mais provável) tu o papas - a não ser que a alma do bom do senhor Narciso (perante quem me inclino, repeitosamente, apesar de o não ter conhecido) interceda junto do Todo Poderoso para que resistas à tentação...
    Siroco

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