quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

...e nove


One of sour, two of sweet, three of strong and four of weak.
Este ano praticamente deixei de fumar e pelo menos na segunda metade quase deixei de beber.
Um ano para esquecer?
Não!
Um ano que devemos recordar porque é com a recordação das coisas más que se tempera o espírito das coisas boas.
Foi um ano de sofrimento para muitos, um ano em que perderam o emprego milhões e milhões de pessoas em todo o mundo. Um ano que devemos recordar para nunca esquecermos que nada está garantido neste nosso mundinho da faz-de-conta em que afinal quase nada é o que parece.
Estou aqui comodamente sentado com a mantinha sobre os joelhos, a janela aberta para absorver este ar rijo de um fabuloso dia de Inverno. Sou um homem de sorte. Sinto-me feliz porque, pelo menos por agora, estou empregado, aparento ter saúde e consigo tirar mais prazer de menos coisas ou de coisas menos opulentas.
Concedi-me o prazer, reverente e cada vez mais raro, de poder desfrutar do fumo de um Montecristo nº3 (também por isso a janela está aberta e fui deixado sózinho) e de me poder despedir do ano de dois mil e nove com a esperança de que o próximo ano possa ser menos mau para aqueles que hoje sofrem. Por mim, que tirei do ano que acaba algumas lições de humildade, espero conseguir levar o próximo a bom porto e espero manter a lucidez e a resiliência que me têm permitido encontrar o caminho da satisfação possível, a ideia de que pode sempre ser pior mas também pode ser melhor.
Tornêmo-nos não a medida de todas as coisas mas parte, demonstrando respeito pela dor e pelo esforço alheio e encarando tudo em perspectiva, se calhar a receita de uma existência proveitosa.
E porque hoje estou a fumar, embora não pretendenda beber, aqui deixo a solução da charada que começa este post para um brinde ao novo ano.
Uma parte de sumo de lima, duas partes de xarope de açucar, três partes de rum escuro e quatro partes de água. Uma pitadinha de noz moscada, um pau de canela e muuuuito gelo, tudo vertido num jarro e bebido com a moderação possível.
Feliz ano de dois mil e dez para todos nós.
...
Reli isto e fiquei com uma sensação de desconexão discursiva.
Ou estou desabituado ou o meu patrão comprou os charutos em Marrocos...

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Flash Mob Lx Xmas 09

o dono da bola (parte 2)


Apesar de tanto a oposição como os jornais concelhios terem falado no assunto levantado pelo post "o dono da bola", a verdade é que, quando escrevi sobre o assunto, eu não estava na posse de nenhuma das informações entretanto vindas a lume acerca da questão das cedências do cine-teatro Messias por parte da entidade gestora do espaço, a CMM.
De facto, não estava a ser sarcástico quando escrevi que tinha aconselhado ponderação a quem me falou no assunto - aconselhei mesmo.
Entretanto, um novo comentário no post leva-me a retomar o tema, agora com uma nova abordagem.
É público que já não é a primeira vez que a CMM nega a cedência do espaço a estabelecimentos de ensino do concelho. Que eu me lembre, pelo menos o jardim de infância de Santana tem uma nega no seu historial. Que eu tenha conhecimento, a dito jardim de infância nunca se negou a fazer arvores de Natal nem palhaços para embelezar as rotundas.
Resumindo, quem achou que seria essa a razão da birra da CMM em relação ao agrupamento de Escolas da Mealhada, pode ficar descansado. Não parece que seja!
Seria até pouco razoável da parte da CMM dar valor a esse argumento, uma vez que se trata de um conjunto de actividades extra-curriculares, não previstas no plano de actividades das escolas e que só seriam levadas a cabo se houvesse boa vontade por parte do corpo docente: nunca houve. Se foi por opção objectiva dos professores se por mera calaceirisse, não é relevante para o caso.
Também me parece pouco razoável que a CMM guarde rancores ao agrupamento derivadas dos resultados eleitorais que elegeram Carlos Maia em detrimento da candidata alegadamente apoiada pela autarquia. Isso são águas passadas e nem as continuadas ausências dos representantes da CMM nas reuniões do Conselho Geral de Escola me convencem do contrário.
A CMM demonstrou até grande abertura de espírito em relação a estes temas uma vez que, alegadamente, apoiou como candidata a directora da supracitada escola, precisamente a pessoa que mais encarniçadamente (eu assiti, ninguém me contou) criticou a CMM daquela vez em que foi negada a utilização do cine-teatro ao jardim de infância de Santana. Chegou a haver artigo nos jornais.
Fazendo um ponto da situação, existe uma coisa chamada poder descricionário que é despudoradamente utilizado por quem tem que estabelecer regras neste país. Não existe lei nenhuma em Portugal onde o legislador não tenha deixado espaço à criatividade de quem tem que a fazer cumprir. A CMM, ao não criar um regulamento de utilização do cine-teatro Messias, fica com esse poder criativo nas mãos. É obviamente cómodo, mas dá azo a todas as interpretações que se queiram fazer.

sábado, 26 de dezembro de 2009

The boogie man



Mais conhecido por Breda Marques ou "o Homem do Saco"

não somos nada...


A natureza envia-nos diariamente mensagens bem concretas. Quem as compreende, sabe que perante o mundo que nos rodeia, nós não somos nada.
Há cinco anos, quase trezentas mil pessoas souberam-no de forma implacável naquele que foi considerado o maior desastre natural da História da Humanidade.
Embora não seja o caso do tsunami de 2004, muita da fúria da natureza é já influenciada pela mão do Homem.
Aparentemente, quem manda importa-se pouco.
Dizia um dia destes um explorador australiano a trabalhar na Antartida que só será feita alguma coisa quando a solução for mais barata que o petróleo ou quando o petróleo estiver quase a extinguir-se, o que parece que não acontecerá nos tempos mais próximos.
E assim andamos, a ver quem se extingue primeiro.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

momento Prof Marcelo para retardatários das compras natalícias


Uma excelente prenda para libertinos (mesmo que apenas teóricos como é o meu caso), para estudiosos de mentes retorcidas, para amigos de cultura duvidosa ou simplesmente porque já acabaram os Ferrero Rocher no Intermarché.
Como a minha imagem pública dificilmente levaria alguém a oferecer-mo, tive que desembolsar vinte e nove aéreos.
Vou agora atacar o danado antevendo um certo prazer lúdico.

Agora a sério

O Chacomporradas deseja a todos os seus fregueses e respectivas famílias um Santo Natal.

festinhas

da liberdade de expressão

Bons tempos, aqueles em que da simplicidade se fazia a vida.
De origem humilde, um carpinteiro pouco dado ao trabalho e uma doméstica pouco dada aos ardores da paixão descobriram que estavam grávidos. Viviam em união de facto que alegadamente ainda não tinha sido consumada.
Depois da relutância inicial, o carpinteiro lá engoliu a história da concepção por meios contranatura, vulgo inseminação artificial.
Um crédulo!
Em data não confirmada e por volta do ano três antes dele próprio, lá nasceu de parto natural um rapagão. Convencionou-se mais tarde que terá sido em vinte e cinco de Dezembro, diz-que por adopção do ritual pagão do solistício de Inverno. Para quem supostamente nasceu com o objectivo de promover a humildade e o despojamento, é estranho ter escolhido logo um feriado para nascer.
A coisa prometia.
Cresceu o moço, sempre às custas da família, com o verbo fácil e um poder argumentativo fora do comum para a época.
Nunca se lhe conheceu ocupação outra que não o lazer e, não contente com isso, ainda arrebanhou um grupo de maduros para lhe seguir as pisadas.
Tudo isto sem Rendimento Social de Inserção nem subsídio de desemprego.
Um feito nesses tempos em que o Estado Social não passava de uma visão de futuro.
Há quem diga que consumia substâncias alucinogéneas que o punham a falar com seres imaginários, mas não há provas disso.
Deixou obra contada por ghost writers, uns anónimos, outros nem tanto.
Escolheu outro feriado para morrer, de forma hoje veementemente condenada pela sociedade, consta que a contas com a justiça aos trinta e três anos.
Terá regressado, crê-se, embora não se saiba bem para quê! Há quem atribua o fenómeno à acção do pai, do verdadeiro, sempre ausente em vida do moço, que tentou emendar a mão, embora tardiamente.
Há quem oriente toda a sua vida com base nos ensinamentos deixados por este jovem que seria hoje talvez um habitante do Bairro da Bela Vista, sobrevivendo de expedientes, quiçá do pequeno furto.
Estranho, é que na actualidade seja precisamente a direita conservadora quem mais admira o seus feitos. A mesma direita conservadora que é apelidada pelos progressistas de intolerante e xenófoba.
Temos o mundo ao contrário.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

mais Hot que o costume...


Pelos idos de noventa e noventa e um, habitei fugazmente e sem gratas memórias as zonas limítrofes da grande Lisboa. Gostei tanto que, mal pude, raspei-me de lá para fora.
Mesmo assim, do pouco que gostei, gostei mesmo.
E o pouco que gostei resumiu-se a três coisas:
Os fins de tarde de Cascais atracado a uma caneca de Guinness no John Bull, os concertos no coliseu dos Recreios de onde destaco Miles Davis e as noitadas no Hot Clube de Portugal.
O Hot Clube, embora a localização e o nome o possam deixar transparecer, não é um bar de alterne. É um clube de Jazz, uma cave na praça da Alegria, paredes-meias com o Parque Mayer, com a Avenida da Liberdade, com a esquadra da PSP e com a pensão Barcelona que, no início dos anos noventa, já oferecia aos seus hóspedes (e publicitava) coisas tão luxuosas como águas correntes.
Quando por lá me perdi, a zona já não era recomendável para incautos. O Parque Mayer estava em pleno declínio e o Maxim era frequentado pelo putedo que batia a avenida.
Ciente da valentia dos meus vinte e poucos anos, ia a pé desde o Cais do Sodré até ao Terreiro do Paço, e daí até aos Restauradores e por aí acima. Noite alta e sozinho...
Entrava no Hot Clube, descia as escadas, amesendava-me, pedia uma caneca de cerveja e ficava por ali horas esquecidas a ouvir jazz enevoado por uma densíssima nuvem de fumo que às vezes mal permitia ver o palco que se desenrolava logo à minha frente.
Nunca lá ouvi ninguém importante. Nunca lá tive nenhuma epifania jazzística. Não posso sequer dizer que tenha aprendido alguma coisa de jeito com a música que por lá ouvi.
Mas era uma experiência íntima de comunhão. Flirtava-se com a música, ali, fresca, sons de improviso, num ambiente de film noir de segunda categoria: cerveja em vez de champagne e alunos da escola de jazz em vez de pretos de smoking agarrados ao Steinway.
Vivi por lá momentos de pura emoção.
A noite passada, o prédio do Hot Clube ardeu parcialmente. A água dos bombeiros fez o resto.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Titan da Mata Velha (??.05.1997-21.12.2009)

Foi escolhido precisamente porque era diferente de todos os outros na ninhada. Não era castanho camurça com uma roseta branca na testa como os irmãos, mas branco com manchas castanhas.
Desde muito novo demonstrou que tinha personalidade. Em quase treze anos de vida, contam-se pelos dedos as vezes que consegui colocar-lhe uma trela; pelos dedos de uma mão... Tossia desalmadamente e olhava para mim com os olhos raiados de sangue como se fosse sufocar. Convenceu-me.
Posso assegurar que teve uma vida feliz. Fez sempre o que lhe apeteceu, comeu quase sempre o que lhe apeteceu e, embora eu ache que eramos amigos, nunca se submeteu a ninguém. Deu-se a quem quis e como quis.
Nunca aprendeu absolutamente nada que se lhe tenha tentado ensinar: sabia que a mangueira significava banho e acabou por se resignar a ela mas apenas porque quis.
Desenvolveu uma relação de cumplicidade com a minha mãe que era quem passava mais tempo com ele: em troca da paparoca, deixava-a cumprir em paz os rituais da higiene do seu espaço.
Neste último ano desenvolveu um tumor do qual se sabia o desenlace.
Talvez porque já não tinha com ele a relação de outros tempos, fiz que questão de o segurar nos braços hoje enquanto uma injecção de pentobarbital de sódio lhe acabou com o sofrimento por volta das três da tarde.
Deixou-me no coração duas marcas: a de lhe ter aberto a cova com ele sempre ao pé de mim e a do esforço que fez momentos antes de ser injectado, para se arrastar na direcção da minha mãe naquele que considerarei sempre um gesto de agradecimento.
Descansa em paz, amigo.

domingo, 20 de dezembro de 2009

o dono da bola

Um dia destes contaram-me que uma escola do nosso concelho solicitou à Câmara Municipal a utilização do nosso Teatro Municipal para uma apresentação do departamento de educação musical da escola ou coisa parecida. O pedido terá sido feito formalmente e a resposta curta e grossa: o Cine Teatro Messias não é um salão de festas.
Disse à pessoa que se calhar não seria bem assim, que às tantas haveria pelo meio algum exagero. Que é comum os equipamentos municipais terem um regulamento de utilização porque o Cine Teatro é pertença do município, não é coutada da Câmara Municipal, e que se calhar o dito regulamento explicitava quais as utilizações previstas para o equipamento.
Ontem, para minha enorme surpresa, vi crianças a sairem do Cine Teatro Messias, daquilo que me pareceu ser uma festa, previsivelmente de Natal.
Se calhar, o regulamento deste equipamento municipal tem alguma excepção para festas de Natal.
É possível.
Cumpra-se o regulamento.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Bartolomeu & companhia


Apareceram pela primeira vez no dia 17 de Dezembro de 1989 e o mundo ainda não se recompôs.
Fazem hoje vinte anos e após 449 episódios continuam iguais a si mesmos.
Parabéns a Marge, Lisa, Maggie, Bart e Homer e a todos os outros habitantes de Springfield.
Bebam lá uma Duff no Moe's por mim que agora ando a modos que abstémio.

excêntricos

"Interrompemos a emissão para informar que esta estação acaba de ser comprada pelo senhor Nuno Cabral de Montalegre e brevemente será mais um edifício devoluto no centro da cidade de Coimbra."
Querem apostar?

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Abertura oficial

(não é o original, mas cumpre)
Comprei hoje o ananás.
Dos Açores, como compete a uma tão elevada função.
Para mim, por reflexo condicionado da infância, Natal cheira a ananás.
Ananás do tempo em que ananás era uma coisa cara, uma coisa rara, enviado por correio por um amigo da família desde Lisboa. Compartilhava o caixote com chocolates e prendas antecipadas para toda a família. Com ele viajou o Conde de Montecristo, a Ilha Misteriosa ou o Robinson Crusoe. Com ele viajou o meu primeiro microscópio ou os fantásticos Grand Prix da Regina, uma tabletes imensas de chocolate de leite, de amendoas, de ananás...
E o ananás, o verdadeiro, farfalhudo. Raro.
Era cerimoniosamente aberto no dia de Natal ao almoço e comido com açucar e vinho do Porto para assentar o cabritinho assado no forno de lenha.
E a sala rescendia.
O senhor Narciso, o amigo que os enviava, já morreu há muito, mas eu obrigo-me todos os natais sem excepção a comprar um bom ananás para lhe sentir o cheiro na sala.
Foi hoje e já cheira.

do gosto adquirido



Sting é um homem rico. Vive num castelo fantástico na Itália e considera-se uma das pessoas mais afortunadas do mundo. De vez em quando sai de casa, seja para apoiar alguma causa, seja para juntar os Police e empochar (consta) cerca de setenta milhões de euros em meia dúzia de concertos, seja para criar mais alguma obra-prima.
"If on a winters night" é realmente uma obra-prima. Lançado há pouco mais de um mês com a chancela da Deutsch Gramophone, este album é um repositório de influências tradicionais das terras altas, traduções do gaélico e sons celtas. Requer habituação como um bom whisky de malte, mas recompensa quem lhe adquire o gosto. Felizmente adquiri à primeira audição, coisa que não há meio de conseguir com o whisky de malte.
Mais uma para o sapatinho de quem estimemos muito.

dos pecadilhos


A História tem o condão de filtrar personalidades. Afigura-se pacífica a ideia de que mesmo as grandes personalidades que contribuiram para a edificação do nosso mundo, terão algures na sua história pequenos nadas, às vezes pequenos muitos, dos quais dificilmente se orgulhariam.
A característica predominante, boa ou má, sobrepõe-se a tudo o resto e seria sensato deixar perdurar essa imagem. Ressalvam-se apenas os grandes segredos que, descobertos, poderão pôr em causa de forma permanente e incisiva, a imagem deixada para a posteridade.
O que interessa hoje que Fernando Pessoa tenha escrito grande parte da sua obra sob o efeito de bagaços e traçadinhos, às vezes ópio?
Que trará de novo o facto de que Sir Winston Churchill era racista, xenófobo e anti-semita?
Será importante saber que François Miterrand era afinal um devasso?
E qual a importância de se saber que Arthur C. Clarke, o pai do satélite de comunicações e autor do brilhante 2010 Odisseia no Espaço tinha uma certa inclinação para rapazinhos?
No entanto, há quem se dedique a procurar o lado mais ou menos sombrio dos grandes da História.
A última vítima terá sido Lord Baden-Powell, o fundador do escutismo que, a crer num estudo efectuado por alguém com muito tempo livre entre mãos, terá tido em tempos uma conduta pouco condizente com os princípios do escutismo.
Conclui o famoso estudo que durante o seu tempo de militar no activo, Baden-Powell terá atropelado não um, mas dois princípios. Alegadamente, mentiu a um prisioneiro e cometeu a má acção de o entregar às autoridades que acabaram por executar o infeliz.
Ficámos todos mais ricos ao saber isto...

domingo, 13 de dezembro de 2009

Facto curioso

É deveras curioso, mas recorrente, o seguinte facto: uma pessoa que usufrui de um bem ou de um serviço pago pela empresa para quem trabalha, reclama mais do que quando paga do seu bolso.
Pessoalmente, acharia mais natural que fosse o contrário.
Mais ainda porque existe uma esmagadora maioria de casos em que só é possível a essas pessoas usufruirem de certos bens e serviços precisamente porque é a empresa que paga.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

da estupidificação


Link enviado pelo meu amigo Pedro Semedo.

É um bocado longo, mas vale cada segundo.
Um video com quarenta e tal minutos de sã introspecção para ser visto e ouvido, de preferência, sem cargas políticas porque este é um problema transversal. Dos mais transversais da nossa sociedade.
Os mais sensíveis podem descontar à vontade o proverbial pessimismo do Professor Medina Carreira.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

A gripe A, B, C e D


É preciso ter topete.
Aparentemente, o nível de vacinação contra o virus H1N1, ronda os 51% dentro dos grupos escolhidos pelo Ministério da Saúde.
Segundo o Jornal i, com as vacinas que restam e para evitar que ultrapassem o prazo de validade, poderá ser possível uma vacinação em massa de todos os jovens, mesmo daqueles que não forem considerados pertencentes a grupos de risco.
Ainda segundo o mesmo jornal, no caso de mesmo assim sobrarem vacinas, a ministra põe a hipótese de serem enviadas para o estrangeiro.
Ficamos assim escalonados:
A.Os imprescindíveis, que são todos aqueles que sustentam o regular funcionamento do país(onde o Ministério da Saúde conseguiu enxertar os deputados, por razões que permanecem uma incógnita).
B.Os coitadinhos, que são os pertencentes aos grupos de risco e que, se morressem muitos poderiam ofuscar o brilho da elite que nos governa.
C.Os amigalhaços, que são os estrangeiros que, não duvido, fariam o mesmo por nós.

E no finzinho, e porque não há mais ninguém pelo meio a quem possa fazer jeito a vacina no estrangeiro (cães, gatos ou até porcos), temos

D.A maralha, que somos todos nós que também pagamos impostos (e também os que não pagam) e que temos no nosso seio algumas das vítimas do H1N1, precisamente aquelas que o foram sem razão aparente, garantidamente por défice cultural do vírus que atacou (e matou) também quem não foi considerado grupo de risco.

Mulher


' Não importa o quanto pesa. É fascinante tocar, abraçar e acariciar o corpo de uma mulher. Saber seu peso não nos proporciona nenhuma emoção.
Não temos a menor idéia de qual seja seu manequim. Nossa avaliação é visual, isso quer dizer, se tem forma de guitarra... está bem. Não nos importa quanto medem em centímetros - é uma questão de proporções, não de medidas.
As proporções ideais do corpo de uma mulher são: curvilíneas, cheinhas, femininas... . Essa classe de corpo que, sem dúvida, se nota numa fração de segundo. As magrinhas que desfilam nas passarelas, seguem a tendência desenhada por estilistas que, diga-se de passagem, são todos gays e odeiam as mulheres e com elas competem. Suas modas são retas e sem formas e agridem o corpo que eles odeiam porque não podem tê-los.
Não há beleza mais irresistível na mulher do que a feminilidade e a doçura. A elegância e o bom trato, são equivalentes a mil viagras.
A maquiagem foi inventada para que as mulheres a usem. Usem! Para andar de cara lavada, basta a nossa. Os cabelos, quanto mais tratados, melhor.
As saias foram inventadas para mostrar suas magníficas pernas... Porque razão as cobrem com calças longas? Para que as confundam conosco? Uma onda é uma onda, as cadeiras são cadeiras e pronto. Se a natureza lhes deu estas formas curvilíneas, foi por alguma razão e eu reitero: nós gostamos assim. Ocultar essas formas, é como ter o melhor sofá embalado no sótão.
É essa a lei da natureza... que todo aquele que se casa com uma modelo magra, anoréxica, bulémica e nervosa logo procura uma amante cheinha, simpática, tranqüila e cheia de saúde.
Entendam de uma vez! Tratem de agradar a nós e não a vocês. porque, nunca terão uma referência objetiva, do quanto são lindas, dita por uma mulher. Nenhuma mulher vai reconhecer jamais, diante de um homem, com sinceridade, que outra mulher é linda.
As jovens são lindas... mas as de 40 para cima, são verdadeiros pratos fortes. Por tantas delas somos capazes de atravessar o atlântico a nado. O corpo muda... cresce. Não podem pensar, sem ficarem psicóticas que podem entrar no mesmo vestido que usavam aos 18.
Entretanto uma mulher de 45, na qual entre na roupa que usou aos 18 anos, ou tem problemas de desenvolvimento ou está se auto-destruindo.
Nós gostamos das mulheres que sabem conduzir sua vida com equilíbrio e sabem controlar sua natural tendência a culpas. Ou seja, aquela que quando tem que comer, come com vontade, quando tem que ter intimidade com o parceiro, tem com vontade; quando tem que comprar algo que goste, compra; quando tem que economizar, economiza.
Algumas rugas no rosto, algumas cicatrizes no ventre, algumas marcas de estrias não lhes tira a beleza. São feridas de guerra, testemunhas de que fizeram algo em suas vidas, não tiveram anos 'em formol' nem em spa... viveram! O corpo da mulher é a prova de que Deus existe. É o sagrado recinto da gestação de todos os homens, onde foram alimentados, mimados e nós, sem querer, as enchemos de estrias, de cesarianas e demais coisas que tiveram que acontecer para estarmos vivos.
Cuidem-no! Cuidem-se! Amem-se!
A beleza é tudo isto.'

Paulo Coelho

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Luz














Continuidade


Iluminação pobrezita, mas mesmo assim menos aberrante que no ano passado.
Contrasta gritantemente com a iluminação das ruas, tal como no ano passado.

My name is Laden, Bin Laden


Mealhada sitiada pela GNR e pela Brigada de Minas e Armadilhas.
Ameaça de bomba nos Paços do Concelho, consta.
Sinto-me no centro da História. Finalmente estamos na rota do terrorismo.
O chacomporradas, em cima do acontecimento, acompanhará o desenvolvimento da situação.
Caso haja explosão e seja devastadora, aproveito este momento para me despedir e desejar a todos um Feliz Natal.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Sai um Óscar para a sôdona Julia



Ainda só vi metade, mas cheira-se à distância o aroma de um Óscar para Meryl Streep.
Dela esperamos sempre o melhor, mas às vezes somos surpreendidos.
Deliciosamente surpreendidos.
Não é um grande filme, é tão somente uma grande interpretação.

Fresquinhos ao vivo




Em Portugal faz-se belíssima música.
Eis aqui três excelentes escolhas para pôr no sapatinho.
Fausto, Sérgio Godinho e José Mário Branco no Campo Pequeno.
Rui Veloso e convidados no Pavilhão Atlântico.
Dead Combo no Hot Clube.
Todos ao vivo e a cores.
Não se macem em oferecer-mos pelo Natal porque já me antecipei.



Morno


Detesto este tempo ameno e húmido fora de época a lembrar Março, aquele tempo pré Primavera, pastoso, peganhento.
Sinto-me como se o corpo, essa veste que aparentemente foi feita à medida, me esteja hoje apertado.
Estou desconfortável.
Esta que é a mais bonita época do ano, é para se viver com frio, com o céu limpo à noite, mesmo que durante o dia não se veja o sol.
Vejo periclitante a minha rotina de anos de me sentar na esplanada do café Santa Cruz a ver os transeuntes e a cheirar o fumo dos carritos dos vendedores de castanhas.
Assim, a única coisa que se consegue é enfiar ainda mais as pessoas dentro dos centros comerciais.
Até os espanhois, e este fim de semana andaram por aí muitos, perguntam onde é o Forum.
Pudera, lá dentro não chove!

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

da tradição

(o belo do folhado de Chaves, crocante e delirante)

Hoje o café foi à borla na nova coqueluche do Largo das Ameias.
Inaugurou-se a Estação Doce.
Se eu em vez de Largo das Ameias, escrever Largo da Estação de Coimbra ("A" para os turistas) e se em vez de Estação Doce, escrever Pastelaria Império, a frase faz logo outro sentido.
Era eu miúdo, fui (vim) com o meu pai visitar a nova Império que acabara de abrir. Um mimo, um luxo. Candeeiros modernos, cromados, pingavam sobre o balcão. Havia luzes embutidas no tecto. As paredes estavam revestidas à cor da sumptuosidade, grená. Até os azulejos da casa de banho pareciam caros: tinham relevo. E cheirava bem na casa de banho, coisa pouco comum nos cafés dos anos setenta.
Maravilhei-me.
Curiosamente, não tenho grande memória desse tempo dos bolos desta Império. Nada que se pareça com a memória que tenho da Império da rua da Sofia, mas a isso voltarei mais próximo do Natal.
Guardei para sempre esta imagem de sumptuosidade, de luxo, de coisa chique.
Quis o destino que viesse aterrar há quase dezasseis anos praticamente ao lado da Império da estação. Era já por essa altura (1994) uma matrona descaída, flácida, que ainda tentava brilhar por entre as novas ofertas da concorrência, das boutiques de pão, dos pastéis industriais, das montras enormes cheias de bolos de aspecto diferente mas sabor igual.
Comecei de imediato a frequentar a Império. A Império que mantinha uma fabricação de pastelaria acima de qualquer suspeita (excepto nas questões da higiene onde teve alguns tropeções), pasteis artesanais, com cremes daqueles que se estragam se não forem consumidos com celeridade.
Sem correr o risco de errar, posso afiançar que dos fornos da Império sai o melhor Bolo Rei do universo, os melhores barquinhos de chantilly com ananás do mundo, os melhores folhados de Chaves de Portugal e as melhores almofadinhas de Coimbra. Isto para não ser exaustivo.
E os queques? Massudos, duros, daqueles que empastelam na boca e pedem uma competentíssima meia de leite para enxaguar o palato.
Específicamente na Império da estação comiam-se ainda umas belíssimas torradas com manteiga a sério. Comi lá muitas nestes quase dezasseis anos.
Infelizmente a degradação continuou e ultimamente já era com pena que eu por lá aterrava. Alterações profundas ao nível da administração da empresa, um atendimento que piorava a cada dia que passava ou consoante a disposição das senhoras que lá trabalhavam e uma última machadada desferida pela ASAE, começaram a ditar aquilo que já se adivinhava. Por ironia, comprovou-se há poucos dias em tribunal que os pelos de rato que a ASAE encontrou na farinha, eram afinal pelos sintéticos de vassoura.
Da tal Estação Doce não sei nada, apenas que hoje ofereceu café aos clientes.
Contaram-me!

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Nina



Do ténue pulsar,
Ao longe
Se entende a imensidão.
No silêncio dos espaços,
Perdidos compassos
Sons fundos.
Da rouca entoação
Da dor
Do desprazer,
Anónimo perecer
Em prantos vou.
Ao longe
Se entende a imensidão.
Grande
Como se estende o perdão
E a dor das coisas belas.