sábado, 10 de janeiro de 2009

The first blood


O primeiro filme da série Rambo chamava-se First Blood.
O título justifica-se quando a determinada altura John Rambo consegue chegar à fala com um antigo instrutor e lhe dá a explicação que o tempo permite: Não fui eu quem derramou o primeiro sangue.
Sempre que se fala de conflitos com alguma idade, mesmo que meramente lactentes, basta viajar no tempo para facilmente mudarem de nome e de lado os responsáveis pelos primeiros derramamentos de sangue.
É assim no País Basco, é assim na Irlanda, é assim no Ruanda, é assim no Haiti, é assim em Caxemira e é assim um pouco por todo o Médio Oriente. Há culpas e, porque se fala de conflitos, há culpados de ambos os lados na mesma medida em que há inocentes precisamente nas mesmas condições.
Por razões de ordem profissional, tenho tido oportunidade de lidar com bascos e com israelitas e, se no caso dos primeiros salta à vista que o conflito que os opõe à Coroa Espanhola está confinado às acções do movimento separatista e tem ou não o apoio da população consoante a "justeza" das acções que levam a cabo, no caso dos israelitas o caso é totalmente diferente. Os israelitas são de longe as pessoas mais desconfiadas, mais stressadas e mais ariscas com quem já tive oportunidade de lidar. Salta imediatamente à vista a pressão com que vivem o seu dia a dia. Não lhes invejo um milimetro das vidas que têm. Vivem num país árido, rodeado de inimigos ou potenciais inimigos e têm bunkers no fundo do quintal.
Não consigo, no entanto, ter mais simpatia por eles que tenho pelos palestinianos ou pelos libaneses.
Basta pegar num mapa para facilmente confirmar quem ficou com as melhores fatias do território quando a (re)criação do Estado Judaico confinou os palestinianos ao sítio onde hoje se encontram. E o termo recriação tem muita importância neste contexto porque basta virar novamente a ampulheta e encontramos em outros tempos do passado precisamente a situação inversa.
Há problemas que se resolvem buscando as suas razões. Este e tantos outros semelhantes resolver-se-ão apenas quando se procurarem as soluções e quando o tempo (por aqueles lados o tempo mede-se em milénios), quando o tempo curar as feridas.
A organização e a modernidade do Estado Judaico permitem aos seus habitantes terem stress enquanto os do outro lado têm morte. É desproporcional a técnica mas comparável a vontade e a força.
Por estes dias vivem-se momentos trágicos. Mais trágicos porque na contenda temos dois povos que se começaram a entender ao fim de muitos anos de conflito e que de repente se vêem arrastados para mais uma horrenda escaramuça por uma organização terrorista que se representa a si própria ao arrepio do poder instituído no país onde opera.
Desta vez sabemos quem derramou o primeiro sangue. Não que isso tenha muita relevância para a estatística dos mortos e feridos.

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