quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Os "asaes"

Já se murmurava em cantos esconços de cafés, já se comentava anónimanente na blogosfera. Indivíduos de perfil adunco, chapéu escuro e abas levantadas trocavam entre si impressões sobre o assunto, cosidos com as esquinas mais escuras da nossa cidade.
Tamanho burburinho chegou, insurdecedor, aos ouvidas da sempre atenta imprensa regional e eis que, num furo jornalístico, se solta a bomba: a A.S.A.E. aterrou na Mealhada.
As antigas instalações do I.V.V. terão sido tomadas de assalto a coberto da gélida e cúmplice madrugada e transformadas em depósito das apreensões levadas a cabo pela nefasta organização.
Maquinaria sinistra, operada por não menos sinistros génios do mal, trabalha incessantemente nestas já longas noites de Outono destroçando o saque e as provas de crimes económicos e outros.
Não sei se não estarão já as caldeiras e os alambiques devidamente kitados para cumpriem com reverência os trabalhos crematórios que farão desaparecer de forma permanente os exéquios resquícios dos suspeitos arrastados para interrogatório.
Pode ser impressão minha, mas parece-me já ter visto fumo a sair das chaminés antes desactivadas: fumo branco para os suspeitos de crimes económicos e fumo preto para os suspeitos de atentados à saúde pública. Poder-se-á aventar a hipótese de fumos de outras cores quando a triagem passar a ser mais rigorosa.
O caos está instalado.
Os meliantes (os tais, os membros da irmandade, os “asaes”) deslocam-se impunemente pelas ruas da cidade,misturando-se com a populaça. Vão tomar café como as outras pessoas, irão provavelmente almoçar como as outras pessoas e, arrisco, serão até capazes de beber o seu copito à refeição, como as outras pessoas.

A maldição caiu sobre a nossa terra…

Acontece que não é a proximidade que atiça a A.S.A.E., acontece que alguns dos cientistas loucos que operam as máquinas são ex-funcionários locais do I.V.V. que assim conseguiram manter os seus postos de trabalho fugindo à deslocalização ou até à disponibilidade, acontece que assim temos as instalações ocupadas e não entregues à sua sorte e a toda a espécie de moléstias das que atacam os edifícios abandonados.
Claro que continua ser vedado à velhota de Arinhos ir vender ovos caseiros à feira, claro que o controlo sanitário dos matadouros dos restaurantes vai continuar a ser feito com as tais regras que muitos (neste caso eu também) apelidam de excesso de zelo, claro que continua a ser discutida a velha questão do frango de cabidela, mas não é porque a A.S.A.E. possa utilizar uns armazéns à nossa porta para guardar uns pechisbeques ou destruir umas carcaças de vitela putrefactas que isso vai ser alterado.
Continuamos a ter este clima apenas porque o legislador, numa atroz falta de sensibilidade, se limitou a passar a papel químico as regras que a NASA utiliza para fazer o comer dos astronautas. Mesmo com a abertura proporcionada pelo despacho normativo 38/2008 (fresquinho,de 13 de Agosto), que apesar de benéfico, acarreta ainda muito papel e muito grupo de trabalho: ainda demais para quem pretende fabricar alguma coisa artesanalmente.
Tem piada que não me lembro de ter visto os jornais a tocarem a rebate quando o I.V.V. começou a reduzir o pessoal e a deslocalizar-se daqui pra fora sem água vai.
Distracção minha, suponho...

7 comentários:

  1. O que é que isto interessa?

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  2. Nada.
    Nem a si nem aos leitores do jornal que se dedicou a explorar o caso.
    Por isso é que eu escrevi.

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  3. E que tal se a ASAE começasse a analisar as alfaces, para ver se têm a tal mixordia com que, diz-se por aí, os agricultores inescrupulosos as borrifam para as fazer crescer de um dia para o outro? E os pesticidas nas maçãs, pêssegos, peras, laranjas, enfim, na fruta toda e em todos os vegetais?
    Não faria trabalho mais meritório do que perseguir a velhota de Arinhos?

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  4. Se eu fosse da ASAE, ia ao Pedro ou ao Meta dos Leitões, fingia que aquilo estava tudo mal e levava os leitõezinhos para casa. Olarilolé!

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  5. Como sempre, a Alma da gente brinda-nos com o mais fino humor...

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  6. ...só inteligível pelos cérebros!

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  7. é verdade...mas o que é que eu posso fazer...sou assim é um defeito...ou feitio. lidar com cérebros como tu desafia-me a ser assim. PACIÊNCIA!

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