quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Santos óleos


O limão tem uma uma importância primordial nos pequenos prazeres da vida.
Temos o privilégio de possuir limoeiros em casa o que é uma riqueza inestimável. Os americanos, por exemplo, não escrevem nenhuma receita em que não tenham de avisar para os perigos dos "waxed lemons". Explicam eles que, se vamos usar raspa de limão ou até mesmo casca, é conveniente dar-mo-nos ao trabalho de lavar antecipadamente a casca do bicho para não morrermos envenenados com a cera. Belos, brilhantes, mas potencialmente perigosos.
O " Boulevard of broken dreams" cantado nos anos sessenta pelo Tony Bennett, não tem um terço do encanto da versão dos anos 90. Chama-se patine.
Continuando.
Quatro partes de vodka Absolut, duas partes de um qualquer licor de cascas de laranja (que no caso era um blue Curaçao) e duas partes de sumo de limão, um shaker e gelo q.b. e todo mundo se transformaria. Mas não; o limão não está suficientemente maduro... Largou um sumo apenas acido e desprovido de alma. Sem os preciosos oleos do nosso contentamento. Falta-lhe acima de tudo sol e isso é intolerável porque o limão é primordial: um pormenor com importância de regra.
"Put on a happy face" já tem mais fifties nos genes. Bennett aí está em casa. Swing e style porque "The best is yet to come". You ain't see nothing yet.
Nada está perdido, até porque no cinzeiro descansa já um Fonseca Cosaco devidamente cortado que só grita por uma chama que o desperte.
Para o deleite basta reformular as proporções: três partes de licor e uma de sumo de limão. Não substitui o fruto maduro, mas deixa que os aromas subtis da laranja se substituam aos santos óleos. Não é a mesma coisa, mas à falta de melhor, serve. Até porque a noite já caiu e ao longe vê-se o brilho dos carros na A1. Chove, e por isso não há melgas.
Uma noite de Agosto que maravilhosamente parece de Outubro, o mês do colorido sublime.
"Oh the good life"

8 comentários:

  1. Sublime!
    Sente-se que estás de bem com a vida e vive-la com a intensidade tranquila dos seus bons prazeres.
    Que sorte tenho em seres meu amigo...
    Um abraço grande Pedro.

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  2. A água serve para matar a sede e tomar banho, embora já me tenham tentado as virtudes da vinoterapia.
    Também bebo Coca-Cola, desde que antecipadamente desinfectada com Bacardi.
    A Seven Up é mais eclética: tanto casa com o aristocrata Pimm´s (e uma casca de pepino que é tão inútil que se torna imprescindível) como com o mais plebeu vermute bianco.
    Os sumos de frutas acompanham todos bem com vodka. O de laranja fica mais assertivo com Campari (para os apreciadores) e o de ananás rejubila se lhe misturarmos um bom trago de rum e uma colherzinha de leite de coco.
    Para a água tónica reserva-se o gin ou a vodka e dois pormenores mágicos: uma casca de limão espremida sobre a superfície da beberagem e umas gotinhas de Angostura bitter.
    Água lisa, só com o whisky, dizem. Mas esse sabe-me a tintura e só me aproximo se precisar dele para aromatizar uma caldeirada ou algum estufado mais pobrezito.

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  3. Meu caro Pedro Costa:
    O seu arcaboiço morfológico e a sua preclara inteligência, calma e pachorrenta, que usa uma notável imaginação e não escorrega em vácuos ou gratuitos rendilhados, faz-me lembrar um heroi que pontificava na banda desenhada da minha juventude: Nero Wolf, senhor de uma preclara filosofia de vida, o detective dos detectives, ao qual mistério algum escapava!!

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  4. Além da dimensão intelectual que não me atrevo a comparar, mais duas coisas me separam de Nero Wolfe: eu não desprezo as mulheres (aprecio-as e admiro-as embora seja fiel à que me acompanha), nem detesto a música.
    No restante dos seus mais conhecidos mundanos prazeres, também adoro cerveja, passo muito tempo de qualidade sem sair de casa e a vida concedeu-me algum conhecimento nas artes da "gourmandise".
    Posso também confessar que o meu aroma doce favorito é a baunilha, vagem de um tipo de orquidea.
    Estou desvanecido.

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  5. Está a ver?
    Ao contrário de si, já não me lembrava que Nero Wolf não gostava de mulheres e detestava a música.
    Mas não lhe custará certamente admitir que todo o génio tem a sua tara. Wolf tinha pelo menos essas duas.

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  6. O não gostar de mulheres pode ter outra conotação. Wolfe despreza-as o que é totalmente diferente, para pior.

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  7. Julgo que até já tivemos esta discussão: Sinatra versus Tony Bennet.
    Não gosto de Sinatra porque ele nunca gostou de música. Em Bennet vemos toda a "joy of life" de quem ama a música e a transpira por todos os poros. Obviamente que a patine dos anos 90 é superior à juventude dos anos 60 (se bem que já contava com uns 40 anos). Ainda hoje o recordo num delicioso dueto com Diana Krall.
    Quanto à agua (lisa) só mesmo para refrescar o meu whiskie (à irlandesa, obviamente). A bebida que refere também acompanhou o meu Verão. Mas como aprecio emoções fortes, substituí o Curaçao pelo Cointreau. A Angusta tb lá estava para homenagear o amigo que fez o favor de ma oferecer.

    Ave Caesar

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