segunda-feira, 28 de julho de 2008

O gosto

Será correcto um programa de culinária na nossa estação pública de televisão apresentar pratos confeccionados com trufas que custam por unidade (mais ou menos o tamanho de uma castanha) quase tanto como recebe por mês um reformado?
Um reformado colocou a pergunta sensivelmente nestes termos ao Provedor do telespectador da RTP.
Pode parecer obsceno, mas é correcto.
É correcto, é educativo e é serviço público.
É tanto serviço público como apresentar a D. Felipa Vacondeus a confeccionar arroz de cordões dos chouriços.
No primeiro caso temos educação para o luxo e no segundo educação para o desenrasque. Tudo aquilo que nos possa elucidar ou enriquecer em termos pessoais é educação. Tudo o que educa sem alienar é cultura.
Cultura é sempre serviço público.
Se eu fosse Provedor, escreveria ao dito reformado uma carta simpática, porque a merece, com o seguinte conteúdo:

"Caríssimo leitor,
Não se dê ao trabalho de deixar de comprar o que quer que seja para tentar saber o que é isso das trufas. Não valem o seu esforço, nem o de ninguem que precise de esforço para as poder comprar. São daquelas coisas que são boas apenas porque são caras e ainda há muita gente no mundo que as pode comprar sem esforço.
Mas nunca se esqueça, caríssimo leitor, da lição mais importante no meio disto tudo: o simples facto de existirem no mundo pessoas com dinheiro para comprar trufas sem esforço, permite que em algumas regiões da França e da Itália, haja pessoas que consigam com isso pôr pão em cima das suas mesas. As trufas são como os diamantes: muito trabalho para pouco resultado."

Comparar os dois exemplos de que falei acima é como comparar um quadro de Rembrandt com um anúncio da Robbialac: nos dois casos temos pintura...


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